Abraçando a inovação: Como institutos agrários apoiam comunidades rurais no norte de Moçambique

Estudantes de Institutos Agrários, na província de Niassa ampliam técnicas de fertilização dos solos após o estabelecimento de parcerias com o projecto AMCANE.
REPORT.PHOTOS: Leonel Albuquerque - 13. novembro 2024

No âmbito da promoção das tecnologias de produção orgânica e regenerativa, o projecto AMECANE, na sua segunda fase, firmou parcerias com os Institutos Agrários de Majune (IAM) e de Lichinga (IAL), localizados no distrito e cidades com os mesmos nomes, respectivamente, que permitiu o treinamento dos estudantes e formadores destas instituições sobre os microrganismos eficazes (EM1) – um tipo de biofertilizante agrícola produzido através da combinação com uma variedade de resíduos de matéria orgânica.

Desde então, as duas instituições de ensino técnico-profissional integraram esta inovação nos seus módulos curriculares de formação, testando em culturas diversas. Mas mais do que isso, a tecnologia do EM1 está sendo colocado ao serviço dos produtores comunitários, de modo a melhorar, simultânea e qualitativamente, a produção e rendimentos, conduzindo assim para sua ampliação e disseminação à escala nacional.

Um dos exemplos concretos desta aliança entre o projecto AMCANE,  instituições académicas e comunidades pode ser constatado no distrito de Majune, onde em sessões de aulas práticas, os estudantes do Instituto Agrário local, usam também o EM1 e seus derivados (Bokashi) nos campos de demonstração de produção de uma variedade de culturas, com destaque para o tomate, o repolho, a cebola, o milho. Parte da produção é destinado ao consumo interno dos estudantes e formadores e a outra segue para a comercialização.

Esta abordagem em que os estudantes, em aulas práticas, produzam bens alimentares está a contribuir para retenção dos discentes naqueles estabelecimentos de ensino, bem como a redução da dependência dos institutos em relação ao orçamento do estado.

No âmbito da parceria com a HELVETAS passamos a integrar o treinamento sobre a aplicação do EM1 num módulo que chamamos de ‘Tecnologia de Investigação Agrária’ e agora estamos a ensinar as comunidades para que também possam adoptá-lo para reduzirem os custos de produção, uma vez que os fertilizantes orgânicos são muito mais baratos e podem ser preparados localmente com restos de variadas matérias orgânica e inorgânicas. Ademais, embora a província de Niassa não seja potencial na produção de caju, ainda assim aplicamos o EM1 nos viveiros de caju e os resultados são promissores, visto que temos 4 hectares de mudas de cajueiro neste momento”, disse Armando António Munguambe, director do IAM.

Cerca de 300 quilómetros depois do distrito de Majune, rumo ao lago Niassa, fica a cidade de Lichinga, onde o Instituto Agrário local (IAL) também introduziu a tecnologia EM1 no seu plano temático de ensino. Aqui, os campos de demonstração – montados pelos estudantes durante as aulas práticas, estão numa zona baixa, onde a irrigação das culturas acontece por gravidade das águas do rio localizado próximo aos campos de cultivo. O IAL está a treinar e assistir tecnicamente a cerca de 200 produtores das comunidades circunvizinhas sobre o uso de biofertilizantes com base no EM1.

Benilde Levene, estudante do Instituto Agrário de Majune
Flora Barca, estudante do Instituto Agrário de Majune

Colhemos 10kg de tomate por planta

Nós temos uma base sólida de ensino da técnica de compostagem – que é outro método de produção orgânica. Quando nos engajamos com a HELVETAS, os treinamentos decorrentes desta parceria permitiram-nos ampliar o nosso entendimento sobre outras tecnologias de fertilização do solo, nomeadamente, aplicando EM1 e seus derivados. Temos estado a ter resultados muito satisfatório, por exemplo, chegamos a colher até 10 kg de tomate por planta, contra uma média de 5kg que produzíamos anteriormente nos nossos campos de demonstração”, Almiro Hugo Cardoso – técnico agrícola, formador no IAL.