O fecalismo a céu aberto é uma prática milenar e prejudicial presente em muitas comunidades rurais em Moçambique, causado por vários factores, entre as quais, a pobreza, o desconhecimento das boas práticas de higiene e limpeza, a falta de infra-estruturas de saneamento.
Deste modo, as machambas, quintais de residências, matas, estradas e até bermas dos rios são usados como latrinas pela população, poluindo e contaminando o meio ambiente, o que gera crises de saúde cíclicas com impactos sociais e económicos que retardam o desenvolvimento das comunidades.
A Helvetas está comprometida em mudar essa realidade e suas intervenções está a contribuir para gerar mudanças dos hábitos e costumes locais na área de abastecimento de água, saneamento do meio e higiene nas comunidades rurais.
A comunidade de Jagoma, que dista a 40 quilómetros da vila de Moma, é disto um exemplo. Nela encontramos Margarida Sualé, camponesa, viúva, de 60 anos de idade, tirando água de uma nova fontanária recentemente reabilitada pela Helvetas. A maioria das habitações naquela comunidade já tem aterro sanitário, uma copa de madeira improvisada, uma casa de banho de palha, visivelmente recente e uma latrina e construída com base em blocos de argila e coberto por cima, à semelhança do que acontece com as habitações.
“Tudo deste lado não tem muito tempo! Menos a casa onde dormimos”, explica Margarida Sualé, apontando para a casa de banho e a latrina, cuja altura, do piso ao tecto, é de cerca de 1 metro.
Mas nem sempre foi assim…
Imagine, 7 filhos, mais a mãe (8 pessoas) fazendo necessidades maiores e menores no quintal de casa onde vivem. Não tardou para que a família começasse a sofrer as consequências das más práticas de higiene e limpeza. E pagavam com saúde.
Margarida
Resistência a mudança
As doenças de origem hídrica e a falta de saneamento e higiene ainda afligiam a família da Margarida Sualé quando ela tomou conhecimento dos trabalhos da AMASI (Associação dos Educadores dos consumidores de Água), parceiro da Helvetas, naquela comunidade. Os membros da comunidade de Jagoma foram sensibilizadas sobre a necessidade de adopção das boas práticas de saneamento do meio e higiene. Embora duvidando, Margarida participou dos encontros e das actividades de revitalização do Comité de Abastecimento de Água (CAS), em Agosto deste ano, no qual viria a ser membro.
E agora, como parte do CAS de Jagoma, Margarida tinha de motivar, com exemplos concretos, as outras famílias de modo a cumprir com as normas de higiene e saneamento, algo que ela não dava importância. Por isso, numa manhã como outra qualquer, ela foi ao encontro do sobrinho do já falecido marido para pedir emprestado o molde, com qual viria a produzir 250 blocos. De seguida, construiu a latrina, incluindo as respectivas paredes e tectos e renovou a casa de banho, com novos paus e palhas.
Margarida também contribui para preservação e manutenção da fontenária de água instalada junto a Escola Primária e Completa 1º e 2º grau de Jagoma. Além disso, ela reconhece que a fontanária trouxe grandes mudanças para sua vida.
Faltava as aulas porque bebia água imprópria
Acabava de sair da sala de exames quando a abordarmos na companhia de uma outra colega. Faída Mussa tem 15 anos e frequenta a 7ª classe na Escola Primária Completa do 1º e 2º Grau de Jagoma, o mesmo nome da comunidade onde reside. O sorriso dela comprovava que tudo havia corrido da melhor forma e estava convicta de que vai passar de classe.
A estudante testemunhou várias mudanças no ambiente escolar, desde professores e professoras, melhoria dos assentos, apetrechamento das estruturas da escola. Mas o que mais contenta a Faída é a disponibilidade de água limpa na escola, até porque não raras vezes viu-se obrigada a falta as aulas depois de ter consumido água do poço.
Faída Mussa (camisa azul-claro e saia azul-escuro)